sábado, 26 de fevereiro de 2011

Carta a um jovem enólogo



"Como é tradição no Brasil, no encerramento do ano letivo, aqueles que concluíram o curso universitário deverão “colar grau” em uma cerimônia pública. O que significa estarem aptos a exercer as funções  profissionais, com o reconhecimento do Estado e da sociedade. Tal fato deve ocorrer também na profissão de enólogo. Depois de estudar e conviver diariamente com vinhos nestes últimos 41 anos, julgo que me sinto pronto a dar alguns conselhos aos jovens que doravante assumirão a responsabilidade de elaborar vinhos nos diversos rincões deste nosso imenso Brasil.
Antes de tudo, parabéns pela bela escolha profissional. Você será o fiador e o partícipe anônimo de um montão de alegrias daqui para a frente, porque em torno de uma garrafa de vinho só a alegria harmoniza bem.
Junte suas forças e essa vontade de querer mudar o mundo e vá à luta. Não se esqueça de ouvir os mais velhos. Esse pessoal que veio antes de você já acertou e errou muito, portanto, tem muito para ensinar, além de que você pode ensinar a ele tudo o que de mais moderno existe nesse fantástico mundo dos vinhos. 
Respeite a natureza. Não tire dela aquilo que não lhe seja óbvio; embora ela seja de grande diversificação, tem mais regras do que imaginamos. Todo mal que lhe causamos será cobrado depois com muitos juros! Insista em sua intuição, até quando ela não prejudicar outros ou não danificar o que a natureza lhe deu. Alguns grandes nomes da ciência dos vinhos ficaram famosos pela persistência e pela teimosia e não se abateram com os primeiros reveses que a natureza impôs. Com paciência e determinação atingiram seus objetivos.
Partilhe informações, a solução pode estar em uma simples conversa descontraída em torno de uma garrafa de vinho.
Saia de casa todo dia com o firme propósito de fazer o melhor vinho do mundo. Agradeça a Deus e à natureza pelas uvas que chegarem a suas mãos. Lembre-se de que o vitivinicultor também esperou um ano para chegar àquele resultado. Seja sincero. Se as uvas não estão boas, ele deve saber por você que não espere o melhor vinho. Você é um agente, não um santo que fará milagres!
Pense sempre com olhos no futuro. Foi dada ao vitivinicultor e ao enólogo a graça de preparar o futuro. O negócio do vinho é fundamentado na arte da paciência. O sucesso que vem rápido é efêmero. Um grande vinho leva anos para ser criado, mas um minuto para cair em desgraça, principalmente quando aproveitadores com o dom da palavra saem pelo mundo dando nota a um produto para o qual não contribuíram em nada para fazê-lo. O consumidor desinformado de hoje ouve mais esses oportunistas do que o profissional que fez o vinho.
Não se renda aos modismos do mercado. Não seja mais um a “criar” uma porcaria, porque “tem quem goste”. Lembre-se de que um dia esse monstro voltará a bater em sua porta, e remover essa borra de sua vida profissional será muito difícil.
Procure fazer vinhos em outras terras. Há um mundo de oportunidades além-fronteiras, mas não se esqueça de voltar e aplicar aqui em casa tudo o que aprendeu. Afinal, o Brasil precisa muito de sua experiência.
Fique sempre atento à opinião do consumidor. É ele quem compra seu vinho. Talvez algo que ele julgue ser um defeito é, na verdade, uma qualidade – e ele deve saber disso.
Haverá sempre muitas quedas de braço entre você e o pessoal do comercial e do marketing. Ouça, pondere, mas nunca abra mão da qualidade em nome da venda. Cada vinho mau que vai para o mercado é um consumidor que deixamos de trazer para este mundo, criado para dar prazer.
Não dê atenção ao estrelismo. O preço para se manter no topo é muito caro, e os de baixo torcerão diuturnamente por sua desgraça. Afinal, a inveja é mais antiga do que o vinho! Procure ser o mais normal possível. Seja criador de vinhos, e não de modismos.
Com os meios de comunicação e a imprensa especializada em geral, seja cordato e responda o que lhe perguntarem com objetividade. Demolir ou criticar pessoas não leva a nada. O bom seria se cada jornalista especializado em vinho tivesse sua vinícola! Aí, a conversa seria outra! Deixe que o mercado se posicione, lembre-se de que o sucesso de um  vinho depende da compra da segunda garrafa.
Seja sincero em falar sobre uma safra. Elas são como nós, seres humanos. Não existem duas iguais. Então, não invente adjetivos nem crie ilusões. Ouça mais e sempre. Alguém que nada entende de vinho, na singeleza de seu comentário, pode lhe dar a chave do sucesso.
Enfim, exerça com orgulho sua profissão. Ponha toda a sua vontade de criar a serviço do vinho. Prove o maior número de rótulos de todo o mundo que puder. Respeite as leis da natureza e lembre-se sempre de que o sucesso se constrói como uma casa, tijolo por tijolo, lenta e pacientemente. Atualize-se todos os dias. A enologia não é uma ciência estática. Seja um agente da transformação".
Excelente texto, que se enquadra em todas as profissões e pra todo mundo que quer vencer na vida e que quer mostrar pra si mesmo isso e não para o mundo ao seu redor.

FONTE: Revista Prazeres da Mesa


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ORIGEM DO BACALHAU

"Para os povos de língua portuguesa; Stockfish para os anglo-saxônicos; Torsk para os dinamarqueses; Baccalà para os italianos; Bacalao para os espanhóis; Morue, Cabillaud para os franceses; Codfish para os ingleses.
(O nome bacalhau, de acordo com o Dicionário Universal da Língua Portuguesa, tem origem no latim baccalaureu )
Mundialmente apreciado, a história do bacalhau é milenar. Existem registros de existirem fábricas para processamento do Bacalhau na Islândia e na Noruega no Século IX. Os Vikings são considerados os pioneiros na descoberta do cod gadus morhua, espécie que era farta nos mares que navegavam. Como não tinham sal, apenas secavam o peixe ao ar livre, até que perdesse quase a quinta parte de seu peso e endurecesse como uma tábua de madeira, para ser consumido aos pedaços nas longas viagens que faziam pelos oceanos.
Mas deve-se aos bascos, povo que habitava as duas vertentes dos Pirineus Ocidentais, do lado da Espanha e da França, o comércio do bacalhau. Os bascos conheciam o sal e existem registros de que já no ano 1000, realizavam o comércio do bacalhau curado, salgado e seco. Foi na costa da Espanha, portanto, que o bacalhau começou a ser salgado e depois seco nas rochas, ao ar livre, para que o peixe fosse melhor conservado".
Fonte: Internet

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A maravilhosa cozinha geek

"Nerds e geeks sabem que, no universo da cozinha, existe uma força natural que os afasta de espátulas e frigideiras. Mas ao menos um deles, Jeff Potter, autor do livro Cooking for Geeks — Real Science, Great Hacks, and Good Food (Cozinha para geeks — ciência real, grandes hacks, e boa comida, sem edição no Brasil), quer converter todos ao que chama de “culinária científica”. Confira:

*Existe uma relação entre programar software e cozinhar?
O segredo de programar software é saber como as coisas funcionam e como resolver um problema. O mesmo se aplica ao ato de cozinhar. Você tem que entender um sistema antes de hackear. Ou seja, precisa saber como ler uma receita e saber decompô-la. Temos que aprender sobre reações e temperaturas ideais. Se as coisas não saem do jeito pretendido, temos que encontrar um meio de contornar.

*E o que na cozinha pode ser melhorado pelos geeks?
Entendendo o funcionamento dos processos químicos e físicos de nossas receitas, temos a habilidade de inovar. Por exemplo, no preparo de um bife uma das reações envolvidas é a hidrólise (quebra da molécula de água) que converte o colágeno (tipo de tecido proteico que dá liga na carne) em uma espécie de gelatina, mudando a textura e o sabor do alimento. Mas a temperatura para isso ocorrer varia de carne para carne. No caso do acém, o melhor modo é cozinhar por 24 horas a 54 ºC.

* O hardware nas cozinhas, como fornos e geladeiras, evoluirão?
Evoluiremos quanto ao controle da temperatura. É a base para uma culinária mais científica. A carne bovina, por exemplo, deve ser aquecida entre 55 ºC (temperatura que mata a bactéria salmonela) e 67 ºC (para manter a ação da proteína actina, que traz sabor). No futuro, teremos controle disso, em números."

Fonte: Revista Galileu